Com a participação de Maria Alzira Seixo, que numa primeira parte da tarde nos falou sobre a obra e a escrita de Alves Redol, e de António Mota Redol, filho de Alves Redol que nos trouxe o vídeo «Alves Redol – vida e obra», realizou-se no sábado passado a 4ª sessão da série «Amigos de Mário Dionísio» sobre este importante escritor cujo centenário se está a comemorar.
Várias crianças, ex-alunos de Ariana Furtado, professora na Escola do Castelo, a uns passos daqui, tinham lido em conjunto com a professora Ariana Furtado, que as desafiou para isto, ainda durante as férias, aqui mesmo, na Casa da Achada, um livro de Alves Redol que marcou muitas infâncias, pelo menos até há uns tempos atrás: «Constantino guardador de vacas e de sonhos».
O que estava previsto era conversarem com o Constantino, durante esta sessão, umas boas décadas depois de ele ter começado a ser uma personagem famosa, e depois de ter mudado de lugar, de vida e talvez de sonhos…
Mas Constantino não pôde estar. Então, foi encontrada a solução: as crianças escreveram a Constantino – e leram-nos a carta). Fizeram perguntas por escrito a Constantino – e leram-nas as nós e os pedacinhos da obra donde partiram para as fazer.
Talvez se consiga fazer chegar ao Constantino… Talvez ele tenha tempo para responder.
E aqui fica o que ouvimos por aqui no sábado, de cabeças e bocas muito novas:
CARTA AO CONSTANTINO
Lisboa, 17 de Setembro de 2011
Num dia de Sol
Caro Constantino do Freixial
Somos um grupo de meninos da cidade de Lisboa. Aquela cidade com que muito sonhou na infância.
Durante vários dias, não queremos contar quantos, encontrámo-nos na Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, para conhecer a sua história e o seu sonho mais bonito.
Ficámos felizes por saber que hoje está nas vindimas. A Alice contou-nos que um dia trincou umas uvas e delas saíram umas «coisas de uvas…». Como não conseguimos compreender o que eram ficámos todos a desejar que cá estivesse para nos explicar.
Sentimos a sua falta, mas compreendemos a sua ausência e ainda mais a sua causa: cuidar das terras, ser feliz no campo.
Somos crianças da cidade, mas adoramos o campo. Você, menino do campo, que sonhava com a nossa cidade…
Ao lermos a história da sua infância escrita por Alves Redol, muitas vezes pensámos se ele não teria vivido consigo. Foi tudo real? É tudo verdadeiro? Viveu assim a sua infância? É verdade que agora trabalha com aviões? Temos tantas depois de termos lido parte das suas aventuras.
Cada um de nós escolheu um excerto do livro e formulou uma pergunta para o mesmo. Quem sabe um dia talvez nos possamos encontrar para ouvir as suas respostas.
Despedimo-nos com muito carinho a desejar boa vindima!
Beijinhos e abraços,
Teresa
Francisco
Vicente
Inês
Salomé
Alice
PERGUNTAS AO CONSTANTINO
Alice Gato:
«Também um rapaz precisa de grandes caminhadas e preocupações para dizer aos outros: “vai aí um ano de pássaros…só eu à minha conta tenho quase cinquenta ninhos”. Mesmo que a fantasia o leve a acrescentar o número, o que não espanta quando se aprendem na escola contas de multiplicar e a professora marca com reguadas na palma das mãos os erros que se cometem.»
Constantino, era feliz na escola?
Francisco Duarte:
«Mas já é sorte ter amigos…amigos dos bons, entenda-se, sem falar nos da família; essa ninguém a escolhe, por mais voltas e contravoltas que dê a vida.»
Constantino, os seus amigos de infância
foram os melhores do mundo?
Inês Pinheiro:
«À noite o Constantino escuta o canto de uma aventura que sonha começar um dia destes.
Não, já não demora muito. Nem ele já pode aguentar aquela ânsia por mais tempo. Precisa de convencer o Manel a partir do seu plano, mesmo que tenha de lhe mentir. Se ele lhe perguntar até onde vão responderá simplesmente: até Lisboa. Lisboa é coisa boa, pois é!»
Constantino, como imaginava Lisboa na sua infância?
Inês:
«Nessa tarde de Glória o Constantino foi para o Rossio da aldeia gozar o sucesso. E, como um déspota que ordenasse festas em sua honra, resolveu começar o jogo do pião umas semanas mais cedo do que estabelece o calendário das jogatinas»
Constantino, desse calendário das jogatinas
que brincadeiras faziam parte?
Ainda hoje brinca com esses brinquedos?
Salomé Nunes:
«A gente crescida nunca se dá por contente e não há maneira também de perceber as tristezas ou alegrias dos mais novos. Esquecem depressa o que já foram!…»
Constantino, realizou todos os seus sonhos
de menino e de adulto?
Teresa Caldas:
«O rio é a sua paixão talvez por sonhar que um dia chegará a serralheiro de barcos. Por sinal sabe ele mais coisas do que vêm nos livros»
Gosta mais de barcos ou de aviões?
Do mar ou do céu?
Pés assentes na terra ou cabeça no ar?
Vicente Gerner:
«Os animais precisam de verde, resmunga-lhe a avó. Constantino percebe o que ela quer dizer, mas entrega-se à fantasia de admitir que as vacas e as burras necessitam de comer cores, agora um bocado de verde e depois outro de amarelo ou de vermelho. E enquanto as desamarra da manjedoura, dá-se ao gosto de pensar como seria divertido levá-las a pastar no arco-íris, podendo cada uma delas escolher a cor que mais lhe apetecesse ou misturá-las e fazer cores diferentes.»
Constantino, foi feliz enquanto guardador de vacas e de sonhos?