Variações d’Uma mulher quase nova
Desde 2 de Maio que temos andado a praticar reginástica. «Na mesa do poeta: jogos de escrita» é uma proposta de Regina Guimarães para nos pormos a escrever, partindo de poemas de Mário Dionísio.
A primeira proposta foi reescrever o poema «Uma mulher quase nova», trocando algumas palavras previamente marcadas e mantendo a métrica dos versos. Podem ver aqui o enunciado.
Hoje publicamos aqui alguns dos resultados:
Um tempo quase novo
Uma nuvem quase cinza
Uma terra quase seca
Chega e quase inunda o rio
Os sonhos quase flutuam
Quase molhados se despregam
Da rotina quase morta
Quase harmónico leito
Enche o espaço ausente
De ondas quase soltas
Claras quase revoltas
Margem quase bastante
Quase músculo embrutecido
Breve instante quase futuro
Quase presente embora outrora
Ana Baltazar
uma colher quase nova
com o cabo quase preto
numa mesa quase posta
com uns figos quase secos
cai e quase prova um pouco
do sonho quase queimado
quase presa se vê deste
peru quente quase morto
quase harmónica descida
enche o espaço quase quadro
de reflexos quase soltos
queda livre quase a tempo
a deixa quase bastante
quase músculo guloso
é o instante quase nada
quase tinta do poema
Diana Dionísio
uma imagem quase nova
o seu brilho quase azul
numa ilha quase ali
de caminhos quase secos
saltando quase penetra
no sonho quase perfeito
quase sombra se desfaz
no ideal quase morto
quase harmónica desperta
enche o espaço quase todo
com acordes quase soltos
de uma nota quase solta
soando quase bastante
quase músculo rasgado
num instante quase quase
quase agora quase aqui
Ilda Fèteira
uma canção quase nova
grita o medo quase pardo
numa noite quase tensa
com as unhas quase duras
salta e quase se transforma
num sonho quase pesado
quase muda se recalca
no juízo quase morto
quase harmónica aldrabice
enche o espaço quase nulo
de badalos quase soltos
inútil quase ofensiva
chicote quase bastante
quase músculo violento
no instante quase torpe
quase império em ruína
Pedro Rodrigues
uma virose quase nova
com uma roupa quase vermelha
numa época quase cara
com os bolsos quase vazios
Surge e quase toca as narinas
do sonho quase pesadelo
quase fria se alastra
no desprezo quase morto
quase harmónica polícia
enche o espaço quase preso
de banqueiros quase soltos
opaca quase fascista
o grito quase constante
quase músculo dorido
dum instante quase igual
quase morto quase logo
Toni
uma mulher quase nova
com um vestido quase branco
numa tarde quase clara
com os olhos quase secos
vem e quase estende os dedos
ao sonho quase possível
quase fresca se liberta
do desespero quase morto
quase harmónica corrida
enche o espaço quase alegre
de cabelos quase soltos
transparente quase solta
o riso quase bastante
quase músculo florido
deste instante quase novo
quase vivo quase agora
Mário Dionísio
Amanhã, às 11h, publicamos um novo enunciado. Para ver os desafios já feitos, clicar aqui, aqui e aqui.