Memória duma Kantata…
A partir de agora está disponível na internet o vídeo feito por Margarida Rodrigues para os 10 anos da Casa da Achada, lembrando a Kantata d’Algibeira, essa incrível caminhada que fizemos em 2013 com a Margarida Guia, e tantos mais, e que teve como uma de várias consequências o nascimento do Grupo de Teatro Comunitário da Casa da Achada.
Vídeo realizado a partir de registos sonoros e imagens de arquivo.
Registos vídeo de Paulo B. Menezes(e também de Youri Paiva, F. Pedro Oliveira, David Deboudt e Rémi Gelin) e registos sonoros de Margarida Guia.
Montagem: Margarida Rodrigues; Pós-produção áudio: Artur Moura.
(2019)
Kantata de Algibeira (2013)
Texto de Regina Guimarães
Música de João Paulo Esteves da Silva
Direcção de voz e sonoplastia de Margarida Guia
Assistência de direcção de F. Pedro Oliveira
Produção Casa da Achada e Pedro Soares
Vozes em palco: Adeline Silva, Amália Rodrigues, Ana Paula Silva, Ana Paula Sousa, Anália Gomes, André Cristiano Silva, Ângelo Teixeira, Antero Almeida, Catarina Letria, Cláudia Oliveira, Conceição Lopes, Conceição Rodrigues, Daniel Vieira, Diana Dionísio, Ema Palácios, Ermelinda Rodrigues, Francisco d’Oliveira Raposo, Françoise Bourchenin, Gracinda Gregório, Hélder Gomes de Pina, Helena Barradas, Humberto Delgado, Irene van Es, Isabel Cardoso, Isabel Pinto, José Costa, José Daniel Caldeira, José Fava Fernandes, Leonel Limão, Leonilde Oliveira, Leonor Duarte, Luísa Mendonça, Manuel Beirão, Manuela Sacarrão, Margarida Rodrigues, Maria Batista Bastos, Maria Beatriz, Maria Clara Carvalho, Maria de Lourdes Correia, Mariana Oliveira, Nazaré Silva, Rubina Oliveira, Rui Carvalho, Sónia Gabriel, Susana Baeta, Teresa Caldas, Vera Baeta.
SOBRE A KANTATA DE ALGIBEIRA
Mas porque é que livros, canetas, vozes, palcos, telas, lugares com histórias das cidades estão confinados a uns quantos? E tantos, tantos outros nem se atrevem? E a muitos nem lhes passa pela cabeça que a sua palavra possa não ser levada pelo vento…
Um projecto chamado palavras que o vento não levará pôs a Casa da Achada-Centro Mário Dionísio (com apoio do PDCM) a ver se seria possível contrariar esta lei que dizem ser obra do «destino». Será?
Nessas Palavras que o vento não levará este coro de vozes faladas e também cantadas que hoje está aqui tem ocupado um lugar central.
A ideia nasceu dum espectáculo que inaugurou em 2010 o Festival de Música de Saint-Riquier (norte da França), posto de pé pelo Cardan, associação contra a iliteracia que trabalha em Amiens, com muitos «zangados com a leitura» dentro. Chamou-se Philharmonique des mots – texto da escritora Marie Desplechin, música do compositor Nicolas Frize, que dirigiu o espectáculo, feito com vozes de toda a gente e dois instrumentos.
Kantata de algibeira não é uma cópia de Philharmonique des mots. Será antes uma continuação a uns quilómetros de distância. Práticas de lá, práticas de cá, práticas de todos os que aqui dão aos outros o que é seu.
Um assunto «universal» e preocupante para (quase) toda a gente – o dinheiro – que Regina Guimarães transformou em escrita, pensada e fabricada para se tornar som.
Um trabalho bem concreto, a partir do texto e das pessoas que quiseram entrar nesta (e das suas vozes), que um músico que sabe e quer, chamado João Paulo Esteves da Silva foi fazendo à vista das pessoas.
Mil ciclópicos trabalhos de Margarida Guia, vinda de Bruxelas e radicada em Lisboa durante mais de três meses para conseguir o que mais ninguém conseguiria, se calhar: horas de gravações de sons da cidade e sua montagem, conversas pelas ruas e pelas leitarias, muitas dezenas de sessões em centros sociais e de dia, ATLs e escolas dos arredores da Casa da Achada e na Casa da Achada, misturando vozes graves e agudas, abertas e fechadas, longas e breves, solos e coros, mais a música nascida num piano. Com as ajudas inestimáveis de F. Pedro Oliveira e de Pedro Soares.
Estão agora aqui gentes de muitas idades e formações, de vidas várias, que se quiseram juntar para que estas palavras sonoras fossem suas, pelo menos no Dia Mundial da Música. E para que outros as ouvissem. E pensassem. Ou seja, para que o vento não as levasse. Pelo menos para já.
Casa da Achada-Centro Mário Dionísio
2013