A CORRIDA, um conto de Mário Dionísio, na voz Pompeu José
Em tempos de pandemia, lembramos outros tempos: os da tuberculose. Tempos igualmente de desemprego. Um conto de Mário Dionísio – que teve tuberculose durante 4 anos no início dos anos 40, interrompendo a sua carreira de professor – lido pelo actor Pompeu José.
«Uma voz conhecida não lhe saía dos ouvidos: “Milhões, biliões de bacilos, andam em toda a parte à solta sem que ninguém lhes barre o caminho. No pau de fósforo em que seguras para acender o cigarro, no bilhete que te estendem no eléctrico, na chávena que te trazem no café com um aspecto irrepreensível, em qualquer móvel da tua própria casa, nas tuas mãos. É bonito evitares contagiar os outros à custa da tua própria vida. Mas quem se interessará por ti? Quem beneficiará do teu sacrifício?” Quando o outro lhe perguntasse pela saúde, deveria dizer: boa. Quando o outro lhe perguntasse: inteiramente curado?, deveria responder: inteiramente. Qualquer ameaço de tosse estragaria tudo.»