Rui Canário (1948-2025)

Rui Canário (1948-2025)
Rui Canário foi sócio fundador da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio. Tinha sido aluno de Mário Dionísio. Foi presidente da Mesa da Assembleia Geral da Casa da Achada durante vários anos.
Tinha enviado para a Casa da Achada, há poucos dias, o seu livro mais recente, Não há morte para o vento: testemunhos sobre a Ditadura e a Revolução (ed. Colibri) com memórias suas, em que fala também de Mário Dionísio e de Eduarda Dionísio.
Para além da sua constante solidariedade (mesmo quando estava geograficamente longe), participou em muitas actividades na Casa da Achada. Lembramos algumas:
Em 2011 na rubrica «Itinerários» esteve à conversa sobre o seu itinerário de vida com Eduarda Dionísio, sua amiga e cúmplice de muitas batalhas. Ali falou dos seus estudos de História na Faculdade de Letras, das lutas contra a ditadura em que se envolveu ainda na juventude, sobre o que foi ser professor do ensino preparatório e a sua actividade sindicalista (Sindicato dos Professores) depois do 25 de Abril. Das organizações políticas a que pertenceu e donde se afastou, mantendo um trabalho político e cultural intenso, nomeadamente na Associação Abril em Maio (1995-2005). E falou também do seu trabalho importante e reconhecido no campo das Ciências da Educação, evidentemente. Professor e investigador, deu aulas em várias universidades e escreveu inúmeros textos sobre a escola, a educação e as aprendizagens.
Em 2011 escreveu um texto para o livro Mário Dionísio – Vida e Obra (ed. CA-CMD), naturalmente falando do trabalho deste como professor e da sua visão sobre a educação e as aprendizagens, que muito lhe interessavam.
Em 2012 participou com uma intervenção na Maratona de Intervenções sobre a sociedade, a arte e actividade cultural «Máscaras, prisões, liberdades e cifrões» (que resultou numa edição da CA-CMD). Ali disse, entre muitas outras coisas:
« A organização social subordinada à lógica de produção de mercadorias desvaloriza e elimina tudo o que, sendo do domínio da autosuficiência, da solidariedade desinteressada e da expressão de si, põe em causa o poder do dinheiro e as várias formas de dominação que o acompanham. Poderá esta verificação inspirar-nos um novo vocabulário para pensar os processos instituintes de mudança social?»
(É um excerto do texto dele que gostamos de citar e que deu origem a uma «folha volante» da Casa da Achada.)
Em 2015 fez a belíssima nota introdutória para o livro O quê? Professor?!, com textos de Mário Dionísio sobre a educação (edição da CA-CMD).
Falou-nos muitas vezes do seu interesse pelo pensamento de Ivan Illitch, o que acabou por dar origem a um «ciclo Illitch» na Casa da Achada.
O Instituto de Educação da Universidade Lisboa refere-se a Rui Canário como «referência incontornável nas Ciências da Educação».
O Conselho Nacional de Educação destaca «os domínios da formação de adultos, da formação de professores e da sociologia da educação. Deixa um legado académico e pedagógico de inestimável valor, tendo desenvolvido uma visão humanista, crítica e reflexiva da investigação, alicerçada no pensamento estético e artístico. Influenciou, decisivamente, a forma como se pensa e pratica a educação.»
Teríamos de falar ainda da sua amizade, inteligência, da solidariedade activa, do empenho político e cultural, do seu gosto pelos livros e pela pintura, a sua atenção ao tempo presente e a sua maneira de ser e estar, atenta e crítica. E da sua memória de elefante!
A Regina Guimarães escreveu-nos: «nunca ouvi ninguém falar tão bem de aprender e ensinar, de ensinar a aprender e de aprender ensinando, ninguém que mostrasse tão bem que há outros saberes, outros modos e lugares de saber e partilhar saber como o RUI CANÁRIO. Com a sua rara conjugação de delicadeza e de assertividade, inesquecível o RUI CANÁRIO…»
Outros amigos e sócios disseram-nos da sua importância como professor, que «fez do ensinar outra coisa». Outros sublinharam as actividades na Achada partilhadas com ele ou simplesmente escutando o que ele tinha para dizer, sobre educação e aprendizagem, mas não só. Sabemos que, nos últimos anos, se dedicava intensamente à pintura.
