Poema / Quadro 7
O poema 46 de «Memória de um pintor desconhecido», de Mário Dionísio, pôs-se a chamar por um quadro de Edward Hopper. Pareceu-nos que este «Automat – 1927» se encontrava bem com o poema.
Neste café quase deserto
não espero hoje ninguém
senão a cor difusa duma ausência
que não magoa e sabe bem
Uma palavra ou outra incompleta se recorta
na memória um minuto preguiçosa
só mal desperta quando a porta
se abre e fecha e entra alguém
que vai sentar-se longe ou aqui perto
O sol de inverno sinto-o nos dedos
como discreta ajuda carinhosa
a esta construída sonolência
tão espontânea sei lá em tanta gente
Que longe tudo o que procuro!
Ser como os outros todos um instante que seja e tão tranquilo e diferente!
sem planos sem segredossem história sem passado sem futuro
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