3 e 6 de Junho: ‘Autobiografia’ de Mário Dionísio vista por Rui Canário; leitura de ‘A Paleta e o Mundo’ e cinema com ‘Os camisardos’ de René Allio
Na sexta-feira, 3 de Junho, acontece a 13ª sessão de ‹‹Mário Dionísio, um escritor››. Depois de já se ter falado sobre a sua poesia e a sua prosa, de se terem lido diversos poemas e contos, vamos conversar sobre a sua Autobiografia (O Jornal, 1987) com Rui Canário.
‹‹Contar a minha vida. Sempre que me falam nisso, imagino-me sentado num banco de cozinha, com um grosso camisolão, ombros caídos, a olhar por uma janela alta e estreita o que ela deixa ver da floresta. Alguém deixou um machado na pequena clareira em frente da janela. Andarão a rachar lenha. Grandes aves esvoaçam lá por fora, não muito alto decerto. E, além disto, silêncio. O profundo silêncio do que não volta mais.
Mas que floresta? Nunca vivi em nenhuma floresta. Nem sequer perto de. Talvez uma lógica interna — penso então — comande os próprios desmandos do nosso pensamento. E esse indivíduo mais ou menos ruço, no meio da cozinha lajeada, olhando o que não existe, queira dizer apenas que tudo foi bastante diferente do que eu teria desejado. Ou será a suspeita (uma quase certeza) de que contar a nossa vida é impossível. Por isso, à ideia de lembrar o que vivi e como, correrei a meter-me na pele de um qualquer em que mal me reconheço. É o que se chama atropelamento e fuga.››
Na segunda-feira, 6 de Junho, às 18h30, começa a leitura de mais um capítulo da 1ª parte de A Paleta e o Mundo de Mário Dionísio. Pedro Rodrigues lê e comenta, enquanto vão sendo projectadas imagens dos quadros referidos, o capítulo ‹‹Os caprichos têm data››. Mais tarde, às 21h30, continua o ciclo de cinema ‹‹Revoltas e Revoluções›› com a projecção de Os camisardos (1972, 100 min.) de René Allio sobre as revoltas camponesas em França entre 1702 e 1705.
No sábado há um debate à noite, pelas 21h30, organizado por O Beco/EXIT!, com o tema ‹‹A inocência perdida da produtividade›› a partir do texto de Claus Peter Ortlieb com o mesmo título.