7 setes desvendei
Os aniversários são alturas complicadas. Tempo de balanços e perspectivas, mas também de troca de memórias e, se tudo correr bem, de festa. A Casa da Achada fez sete anos de abertura ao público e assinalou-os, a 1 de Outubro, com uma tarde de actividades onde apareceram várias caras novas e outras que fazem já, felizmente, parte da mobília ao longo destes sete anos de participações e entusiasmos mais ou menos regulares, mas que nos têm permitido manter as portas abertas e acreditar que ainda faz todo o sentido procurar um espaço comum de intervenção cultural (que não se separa da política nem é hierarquizável), onde às vezes até nos podemos queixar de falta de braços mas ainda não de falta de ideias.
Continuando o que se tem feito este ano, que assinala esse outro aniversário, o dos cem anos do nascimento de Mário Dionísio, abriu-se a tarde com a inauguração de uma exposição peculiar, onde se lê as paredes e «as obras de arte são notas de rodapé». Assim, percorremos uma colecção da correspondência trocada por Mário Dionísio com amigos, inimigos, gente próxima ou mais distante ao longo dos anos. Não era, no entanto, como nos explicou a Eduarda Dionísio durante a visita guiada possível a uma exposição destas, uma colecção sem critérios: ali estarão, até dia 17 de Abril de 2017, postais enviados por amigos em viagem, por exemplo, a correspondência trocada sobre a saída de Mário Dionísio do PCP, sobre as polémicas do neo-realismo, ou outras coisas que tenham parecido relevantes fosse para dar a ideia de uma época antes dos e-mails, fosse para esclarecer aspectos menos conhecidos de polémicas em que Mário Dionísio se envolveu, ou mesmo de alturas da sua vida de que ainda assim vamos falando pouco, como os tempos que passou no Sanatório do Caramulo.
Logo a seguir, porque a memória conta, repetiu-se uma leitura que já se tem feito às vezes, sempre a várias vozes que vão variando, de excertos da Autobiografia de Mário Dionísio, acompanhada pela projecção de algumas imagens.
Das polémicas e costumes ligeiramente mais antigos, passou-se ao mundo de hoje (assim tão diferentes?). Tínhamos proposto a uma série de associações que se juntassem a nós para uma conversa sobre as coisas que fazemos todos os dias, as batalhas que travamos enquanto colectivos que queremos que sobrevivam, as dificuldades, as soluções encontradas por uns que podem servir para outros, as coisas que podemos fazer em conjunto, as razões que nos fazem continuar, apesar de alguns dissabores, a querer intervir no mundo. Estiveram connosco pessoas de muitos sítios, entre eles, do Le Monde Diplomatique, da Recreativa dos Anjos, da Cicloficina dos Anjos, do GAIA, do Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros, da Associação Terapêutica do Ruído, da Fábrica de Alternativas, da Unipop, do Mob, do SOS Racismo, da Associação de Residentes do Alto do Lumiar, da Association Cardan (França). Não é todos os dias que nos juntamos, por muito que a maior parte de nós tenha sempre na cabeça o desejo de participar nos eventos uns dos outros. Que um aniversário sirva de desculpa para uma ocasião destas!
Como não podia deixar de ser (ou podia, claro, que deixar de ser é o mais fácil, mas não queremos que deixe), seguiram-se as cantigas do Coro da Achada, da mais velhinha, a primeira cantada pelo Coro, à mais recente, feita há uns meses para o espectáculo de 16 de Julho, passando por uma interpretação de «Sete fadas me fadaram» do Zeca Afonso, de onde roubámos o título para esta tarde de sábado.
E do convívio no jardim, ao cair da noite, terá saído a vontade renovada de nos voltarmos a encontrar. Venham mais sete!