MARGARIDA GUIA
Morreu-nos uma grande amiga. Estava doente de cancro há alguns meses e deixou-nos na segunda-feira, dia 19 de Julho, num hospital de Bruxelas, cidade onde residia há anos, vinda de Paris.
Margarida Guia era uma pessoa de excepção, uma artista de rara sensibilidade e de múltiplas facetas. Actriz, bailarina, cantora, encenadora, criadora de paisagens sonoras, inventora da Bibliambule, uma pequena biblioteca com rodas com a qual percorria ruas do mundo lendo versos a quem passava e girando as manivelas de várias caixinhas de música.
Solidária de muitas causas pelos direitos dos mais segregados (sem-abrigo, migrantes, idosos, pobres) colaborou assiduamente com a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, desde a sua abertura.
Muitos de nós conheceram a Margarida na associação Abril em Maio onde fez desabrochar um espectáculo a muitas vozes (e corpos) em torno de Jacques Prévert, “Para rir em sociedade“. Várias vezes nos encontrámos na Abril em Maio e depois na Casa da Achada, onde fez oficinas de voz, leituras de poemas (às vezes pelas ruas), músicas improvisadas, participações em diferentes projectos. Um deles foi a “Kantata de Algibeira”, em 2013, com a música de João Paulo Esteves da Silva e as palavras de Regina Guimarães, projecto comunitário inesquecível para todos os que nele participaram. Não foi só a “encenadora” da Kantata, mas a pessoa que foi capaz de reunir vontades, congregar vozes, ser um potente motor de entusiasmos. A juntar gente com gente. A descobrir sons, vozes, palavras, a sugerir ideias, a inspirar-nos com a sua atenção, o seu sorriso, a sua solidariedade imensa.
Nos últimos tempos enviou-nos leituras de poemas de Mário Dionísio para o programa “Achada na Rádio”. E estávamos à espera de nos poder voltar a encontrar para pôr de pé uma nova kantata, a “Kantata do Tecto Incerto”.
É um desgosto profundo para todos os seus amigos e amigas. Uma perda enorme. Uma grande saudade já.