Mário Dionísio, professor, visto pelos seus alunos e colegas
No sábado dia 24 de Outubro, às 16h, realizou-se uma sessão especial do ciclo «Escola, para que te quero?», dedicada a Mário Dionísio, com a participação de vários dos seus alunos e colegas. A sessão, intitulada «Mário Dionísio pelos seus alunos e colegas», contou com a presença de Adelina Precatado, Luis Miguel Cintra, Luís Neto, Miguel Lobo Antunes e Jorge Silva Melo.
Na plateia, outras vozes se fizeram ouvir, de gente que conheceu Mário Dionísio e parte de uma vida inteira a ser professor mas também de quem o conheceu apenas através dos seus textos e das suas posições públicas sobre a escola e a educação.
Depois de uma introdução de Diana Dionísio e de João Rodrigues, lembrando as outras sessões do ciclo em curso, chamando a atenção para a exposição visível na zona pública e para a recente edição do livro O quê? Professor? onde se reúnem, pela primeira vez, os textos fundamentais de Mário Dionísio sobre ensino.
Foi aliás com uma referência a esse livro que começou Adelina Precatado, falando da experiência do Liceu Camões, onde Mário Dionísio foi professor durante anos. A professora de matemática falou de um «um conjunto de princípios» nas ideias de Mário Dionísio relativamente à educação e enquadrou o seu pensamento relativamente a algumas questões importantes e actuais: a defesa da gestão democrática das escolas, a crítica da avaliação e da sua centralidade, a necessidade de experimentação e melhoria contínua dos processos educativos («não desistir, fazer sempre melhor»), e a ideia simples (mas tão frequentemente esquecida) de que o aluno não é um número.
Fernando Gomes trouxe memórias do seu tempo no Liceu Camões (quando tinha apenas 10 anos) e lembrou como aquela era uma escola de «disciplina férrea» onde a figura de Mário Dionísio aparecia como uma lufada de ar e de inteligência. E como ao rigor se juntava a ironia e um humor subtil.
Luis Miguel Cintra leu um texto escrito por si para lembrar como aprendeu, nas aulas de francês de Mário Dionísio, muito mais do que francês: saber ver, aprender, dizer e questionar. Luis Miguel Cintra lembrou ainda como aprendeu, com curiosidade e paixão. Caracterizou a forma de estar de Mário Dionísio como «uma tranquila lucidez, por mais apaixonada que fosse». Com as palavras bem escolhidas, porque «nomear apenas, já é intervir». Um professor excepcional que o ajudou a «aprender a estar vivo».
Miguel Lobo Antunes também foi seu aluno de francês e lembra-se de «ficar pegado ao que dizia». Uma memória, partilhada por outros, de extraordinárias aulas sobre as «Viagens na minha terra» de Almeida Garrett, viajando pelas palavras e pelas ideias. Lobo Antunes sublinhou que havia neste professor uma ideia de responsabilidade, de cada um e colectivamente. Mas também como ele o ensinou a aceitar a mudança, e a aceitar que mudamos.
Jorge Silva Melo só pôde chegar um pouco mais tarde, mas disse ainda de sua justiça sobre alguns traços fundamentais da prática de Mário Dionísio enquanto professor: um domínio excepcional do tempo (e do tempo da aula), a capacidade de relacionar sem sair do assunto, e sobretudo uma análise das obras que partia do texto e não das regras pré-fixadas, das leis já estabelecidas, dos preconceitos. Um close reading, uma capacidade crítica que não se limita a verificar, mas que faz pensar as próprias regras do texto. E uma preocupação com a expressão clara: porque a linguagem é imperfeita, mas não tem de ser suja – pode ser limpa e sempre reinventada.
Coisas que perduraram, não só na memória, mas na vida destas pessoas. Alguém disse: «espero ser ainda aluno dele, apesar de já não ser há muitos anos».