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25 de Abril: dentro e fora

Memórias, imagens e muita gente na Achada

Para a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, o 25 de Abril não é só um pretexto. Nem é só a data que importa, embora a libertação ressoe neste número, neste mês, naquele ano. Importam os dias que se lhe seguiram, que Mário Dionísio viveu intensamente e descreveu no seu diário como «dias impossíveis de contar».

Nos dias 25, 26 e 27 de Abril a Casa da Achada lembrou o 25 de Abril de há 41 anos a pensar em memórias vivas, em imagens que fazem ver (e não só olhar) o mundo de outra forma.

No sábado dia 25 inaugurou ao fim-da-tarde uma exposição de Gérald Bloncourt, com 30 fotografias suas. Diana Dionísio abriu a sessão com as razões desta exposição e agradecimentos ao Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe e ao fotógrafo pela cedência das fotografias expostas. Para além das fotos de Bloncourt, noutros painéis, reproduções de fotografias de slogans escritos nas paredes – feitas entre Maio e Junho de 1974 – decoravam a Casa (e a rua) da Achada e numa mesa à entrada, jornais do 25 de Abril para ver e folhear.

Sorte foi poder contar com a presença de Bloncourt, fotógrafo de 88 anos de idade, que convidámos a vir de França. Um homem com um percurso muito rico, migrante e militante. Na presença de muitas dezenas de pessoas, Bloncourt falou da sua relação com Portugal e os portugueses, e percebemos como aquelas fotografias têm histórias por trás. Nascido no Haiti, depois de emigrar para França fotografou emigrantes portugueses nos bairros de lata dos arredores de Paris. Seguiu-lhes as pisadas, veio descobrir Portugal e até fez o «salto» com eles para lá dos Pirinéus – porque teve curiosidade de saber donde vinham, como viviam, as dificuldades que tinham. Na exposição (que pode ser vista ainda até 1 de Junho) há também fotografias do imediato pós-25 de Abril e do 1.º de Maio em liberdade, em que Bloncourt tinha de enxugar as lágrimas para conseguir fotografar.

Depois de vermos dois diaporamas que Bloncourt preparou para nos mostrar, «Revolução dos cravos» e «Maio de 68», o coro da Achada – que já na noite anterior rumara com o grupo de teatro da Casa da Achada até ao Largo do Carmo com vozes e cartazes alevantados – cantou canções de liberdade e de transformação («eu canto o Maio ansiado, aquele que há-de vir…») e passaram centenas de pessoas para ver, ouvir, conversar, cantar, comer qualquer coisa e beber um copo, conviver, estarem juntas. Foi um piquenique valente, até pela resistência… à chuvada que caiu depois mas não desmobilizou a festa.

No domingo, dia 26, houve uma segunda conversa com a presença de Conceição Tina Melhorado, uma mulher que Bloncourt fotografou quando era menina, segurando uma boneca num bidonville de Paris. Tina contou como aquela fotografia lhe mudou a vida e fortes memórias do penoso «salto». A boneca era a prenda que ela ia ter (e teve mesmo) – mas durante a viagem ela «já não sabia se queria…» Oportunidade para falar de imigração portuguesa e memória operária, e ver outros diaporamas com muitas outras fotografias de imigrantes, da classe operária em França, ou das lutas do Maio de 68. Na mesma tarde de domingo, depois de um «ensaio aberto» das canções feitas nas oficinas de Abril e um biscoito para o lanche, houve tempo para ver o filme «Os cantos do desertor», de José Vieira, e falar com João Machado e José Machado a partir das memórias e reflexões. Percursos de vida e de trabalho, de luta e de tomada de consciência política, marcados por terem sido desertores, recusando combater na Guerra Colonial.

Finalmente, na segunda-feira dia 27, este «25 de Abril – fora e dentro» incluiu uma terceira conversa, desta vez co-organizada com o grupo do seminário «Memória, Cultura e Devir», do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (FCSH). Foi possível contar com a presença de um grande fotógrafo português, Eduardo Gageiro e perceber os inúmeros pontos de contacto com a obra e o «olhar comprometido de Gérald Bloncourt», precisamente o título da exposição na Casa da Achada. As fotografias ali estiveram sempre, enquanto as pessoas se encontravam, enquanto se cantava, se conversava, se interrompia por vezes para ver melhor uma fotografia e quem lá estava («aquele ali sou eu a sair da prisão de Caxias»), se comia, se convivia, se discutia e discordava, lembrando liberdades que se tomaram e as que estão por conquistar. E as fotografias ali, a olhar para nós e a desafiar-nos a olhar também. E a ver.

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André Spencer e F. Pedro Oliveira para Casa da Achada - Centro Mário Dionísio | 2009-2020