1 de Novembro de 2022
Para consultar a programação para este mês
da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio
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Horário de Funcionamento:
Segunda, Quinta e Sexta
15:00 / 20:00
Sábados e Domingos
11:00 / 18:00
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Na segunda-feira dia 22 de Maio morreu Eduarda Dionísio, vítima de um cancro de pulmão. Ainda não tinha completado 77 anos.
É uma perda enorme para todos e para a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, associação por si idealizada, fundada e onde fez tanto e com tanta gente. Ela foi o motor, as mãos, a inteligência, a inspiração, a crítica, a imaginação, a memória. Durante muito tempo, ao lado do seu companheiro Vítor Ribeiro, o Maçariku.
Da sua cabeça e do seu esforço saíram dezenas de actividades, exposições, projectos, convites a pessoas, ideias, edições, trabalhos de arquivo e divulgação. A lista é interminável.
Saíram também livros seus, como Francisco Castro Rodrigues – Um cesto de cerejas – conversas, memórias, uma vida, com organização, introdução e notas de Eduarda Dionísio (edição da Casa da Achada em 2009).
Actualmente, a Eduarda estava a preparar a edição do 5.º e último volume do diário inédito de Mário Dionísio, Passageiro Clandestino. Não pôde terminar esse trabalho. Foram editados (entre 2021 e 2023) os primeiros quatro volumes deste diário, todos eles acompanhados de volumes autónomos de notas escritas por ela. Essas notas, para além de contextualizarem o texto de Mário Dionísio, são um trabalho de investigação precioso para a história do século XX português, com o seu olhar, o seu rigor e o seu sentido crítico.
É impossível dizer em poucas palavras o que foi e o que fez esta mulher extraordinária. A Eduarda gostava que as coisas fossem úteis, protestava contra o desperdício de materiais, de esforços e ideias. Todo o seu trabalho associativo tem a ver com quebra de barreiras: entre leigos e os especialistas, entre amadores e profissionais e entre classes sociais diferentes. Derrubar as barreiras, também, entre o pensar e o fazer, propondo sempre que juntássemos acção e pensamento, mãos e cabeça. “Viva a liberdade, dentro e fora da cabeça”, dizia uma camisola feita na Abril em Maio, associação onde circulavam ideias, objectos, textos, filmes, artes e artesanatos contra as lógicas culturais mercantis. Fazedora incansável em mil disciplinas diferentes (escrever, ensinar, pintar, fazer artes gráficas, editar, intervir, investigar…), a Eduarda valorizava os saberes-fazer, as técnicas, as sabedorias que extravasam os currículos académicos, as formas diferentes de nos relacionarmos como seres humanos, de viver e pensar o mundo (livremente!) e as possibilidades de o transformar. Outra barreira ainda a superar: ser capaz de alargar as fronteiras do possível, contra o “sempre foi assim”, coisa que ela combateu com todas as suas forças. Porque pensava que tudo podia ser de outra forma. Por isso fez amizades pelo mundo inteiro com gente que partilhava, de uma forma ou de outra, esta atitude crítica, solidária, transformadora.
Uma biografia (impossível e incompleta)
Eduarda Dionísio nasceu a 6 de Junho de 1946 em Lisboa. Estudou no Liceu Francês e depois na Faculdade de Letras de Lisboa onde se licenciou em Filologia Românica.
Participou nos movimentos estudantis antes do 25 de Abril. Fez parte do Grupo de Teatro da Faculdade de Letras (1969, com Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra e outros). Em 1968, aos 22 anos, publicou, com Almeida Faria e Luís Salgado de Matos, o livro Situação da Arte, resultado de um inquérito feito a artistas e intelectuais portugueses. Em 1971 fundou com Jorge Silva Melo o jornal Crítica. Em 1972 editou o seu primeiro romance, Comente o Seguinte Texto:. Escreveu depois várias obras literárias, romances e muitas outras de difícil catalogação, como o importante livro sobre a cultura em Portugal Títulos, acções e obrigações – sobre a cultura em Portugal – 1974-1994.
Foi professora de Português no ensino secundário durante grande parte da sua vida (Liceu Camões, Escola Secundária da Cidade Universitária, Escola Gil Vicente). Foi militante nas escolas, delegada sindical, dirigente sindical (77/78), fundadora do núcleo de professores do Movimento de Esquerda Socialista (onde esteve até Dezembro de 75), fundadora da CEC — Contra a Escola Capitalista — que reunia dezenas de professores sem partido e cuja actuação excedia a actividade sindical.
Foi tradutora, artista plástica e crítica literária. Escreveu para vários jornais e revistas em épocas diferentes (Seara Nova, Diário de Lisboa, jornal Combate e muitos outros). Participou, como independente, na campanha eleitoral do PSR ao Parlamento Europeu de 1987.
Dedicou-se ao teatro, tendo sido actriz, dramaturga, cenógrafa, etc. (Faculdade de Letras, Teatro da Cornucópia, Teatro O Bando, Contra-Regra, que fundou com Antonino Solmer). Traduziu textos de Shakespeare, Brecht ou Heiner Müller, e fez vários trabalhos de dramaturgia, como Dou-Che-Lo Vivo, Dou-Che-Lo Morto (co-autoria com Antonino Solmer), a partir de textos de Camões, ou Primavera Negra, colagem de textos de Raul Brandão. Escreveu, a pedido de Adriano Luz, Antes que a Noite Venha, os monólogos de Medeia, Antígona, Julieta e Castro nas vozes de quatro mulheres da noite, peça levada à cena em 1992 na Cornucópia.
Foi uma das fundadoras da Associação Abril em Maio, em 1994, associação com importante intervenção cultural até 2005, inspirada na memória do movimento popular da revolução portuguesa, onde realizou centenas de actividades, encontros e edições. Em 2006 esteve no projecto do jornal PREC (Põe Rapa Empurra Cai, que teve apenas 3 números), edição que paginava com Vítor Silva Tavares e à volta da qual se realizaram várias séries de encontros, debates e conversas sobre arte, política e sociedade. Em 2008 fundou, com uma série de amigos, alunos, e familiares de Mário Dionísio (ou estudiosos da sua obra) a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, arquivo vivo e associação cultural com intervenção diversificada, dedicada antes de mais à divulgação da vida e da obra do seu pai, Mário Dionísio, e da sua mãe, Maria Letícia Clemente da Silva.
Que dias!
No sábado, 22 de Abril, às 15h30, inaugurámos uma nova exposição de pintura e desenho de Mário Dionísio: «Pintarei, pintarei, queiram ou não». Nas paredes da zona pública da Casa da Achada estão agora quadros e desenhos de Mário Dionísio dos anos 40 aos anos 90 do século XX. Uma pequena imagem de um longo percurso de pintura de um homem que por ela se apaixonou e dela fez uma actividade incessante de pesquisa de cores e formas, desde os primeiros quadros figurativos até à espantosa produção abstracta que começou com uma «visita inesperada» (assim se chama o seu primeiro quadro abstracto, de 1963, que também está exposto). Diana Dionísio apresentou a exposição, sublinhando a forma como ela é feita na Achada, a muitas mãos e com rigor, mas longe das lógicas expositivas institucionais (assentes na especialização, na hierarquização do trabalho, no marketing, etc.) e Inês Nogueira leu textos e poemas do poeta-pintor, muito a propósito.
Na mesma tarde de dia 22 foi lançado o 4.º volume de Passageiro Clandestino, o diário de Mário Dionísio até agora inédito. Fruto de um trabalho monumental de Eduarda Dionísio, a edição é acompanhada de livros de notas (neste volume são dois!) que permitem contextualizar e perceber melhor tudo o que ali se conta e se pensa (pessoas, lugares, acontecimentos). Este volume vai de 1974 a 1980, sendo um documento valioso para perceber o processo revolucionário português e aquilo que se lhe seguiu. Encheu-se a sala de gente para falar deste volume, com intervenções de umas 17 pessoas que tinham lido e que escolheram uma “entrada” do diário para a ler e comentar. Interessante encontro em que a variedade de temas (política, arte, educação, RTP – onde Mário Dionísio foi, por um tempo, director de programas, para além de questões mais íntimas e dilemas “existenciais” que também se podem encontrar neste riquíssimo diário). Foram duas horas de conversa, com intervenções variadas, por vezes discordantes e questões muito pertinentes de muitos, tivessem ou não lido já este volume IV.
No dia 23 de Abril houve no pátio interior da Casa uma animada oficina para miúdos e graúdos. Vieram 25 pessoas fazer faixas e cartazes com versos de canções. José Smith Vargas, que orientou a oficina, trouxe até um gira-discos e LPs para irmos escutando música e escolhendo os versos mais adequados às lutas que aí estão e aos combates por vir. Voaram tintas, lápis e marcadores por papéis, cartolinas e tecidos. E deixaram marcas que nos lembram que, como diz o Zeca Afonso na sua canção «Papuça», «a revolução é pra já». Assim se chamava a oficina, aliás. Muitos cartazes ficaram à espera de ser levados à manifestação do 25 de Abril. E foram mesmo.
No dia 24 estivemos das 16h até para lá da meia noite no Arraial do Carmo, no Largo do Carmo, ali na outra colina. Montámos banca e estivemos a apregoar livros e autocolantes, a mostrar e a vender t-shirts e textos e postais da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio. E ainda vendemos alguns. O mais interessante, para além da música que se podia ouvir, foi falar com tanta gente que por ali passou, de todas as idades e feitios e medidas. E também se cantou, pois claro.
No dia 25 já não é surpresa a multidão de gente que vai ao fim da tarde ter à Casa da Achada para conviver, conversar, beber um copito, comer um salgado.
E que também pôde ouvir às 18h um texto de Regina Guimarães, lido por João Rodrigues e F. Pedro Oliveira. Pusemos uma vinte cadeiras, mas de repente estavam umas cinquenta pessoas. Toca a puxar mais cadeiras e mesmo assim estava gente em pé.
Depois, lá fora, com uma multidão que pôs o Largo da Achada cheio que nem um ovo, foi difícil arranjar espaço para as pessoas que fizeram a Kantata do Tecto Incerto mostrarem um excerto do espectáculo, a propósito do lançamento de um CD com a Kantata cantada na íntegra (que acompanha o libreto) ali mesmo no Largo da Achada (já passou quase um ano!).
Ainda vieram depois o coro e o grupo de teatro comunitário da Casa da Achada com leituras e canções. E ainda surgiu a inevitável «Grândola, vila morena» cantada por toda a gente que enchia («nunca vi aqui tanta gente assim», ouvia-se dizer), enchia mesmo o Largo e as escadas por aí abaixo, por ali a cima.
Houve quem fosse espreitar a exposição ou ler um bocadinho do «25 de Abril ao ar livre», a exposição sobre o 25 de Abril que estava em versão “pobre”, em papel, no Largo, mostrando um pouco de tudo o que mudou depois do 25 de Abril. Mudou tudo, mas está tudo por mudar.
Obrigada pelos «Dias incomuns, como é costume»!
Houve conversas participadas, cantorias, visitas comentadas à exposição, 12 prémios sorteados para 11 vencedores (temos uma amiga com sorte, que ganhou duas vezes), uma oficina onde se fizeram 17 carimbos diferentes, duas rábulas de chorar a rir e o melhor de tudo: muitos encontros.
Pusemos à venda livros velhos e novos, cedês, objectos bonitos, cadernos, jogos, cartazes, coisas que se comem, etc, etc.
Infelizmente, devido a um cartão de memória defeituoso, perdemos a maior parte das fotografias que tirámos. Mas temos estas, que partilhamos convosco.
Na tarde de quinta-feira dia 8 o Frederico Mira George, que também é pintor, preparou uma visita comentada à exposição «Como esta mão, que segura ou se prolonga no pincel» em que nos aguçou as curiosidades e fez ver as cores dos quadros de outra maneira…
Depois houve uma conversa muito participada (mas difícil!) sobre «A intervenção cultural contra os autoritarismos». Fica um agradecimento especial ao João Baía, à Inês Sapeta, ao António Redol, ao Tito Basto, ao Toni, ao Manuel Deniz, ao Claudio Carbone, ao Luiz Rosas e ao Mário Rui Pinto, que prepararam intervenções para esta discussão de quinta-feira à tarde. E a todas as outras pessoas que participaram!
No sábado, dia 10, o coro cantou canções que nunca tinha apresentado em público. E intercalou-as com pequenos textos que também se podiam ler em folhas volantes ilustradas pelo Mateo Vidal.
Ainda nesse dia conversámos com vários fazedores da Agenda Pintalhona 2023: gente da Associação Desportiva e Recreativa O Relâmpago, da Associação Sirigaita, do Pintalhão (casa do Porto que teve a ideia e a levou a cabo) e da Casa da Achada trocaram ideias e histórias sobre como foi fazer este objecto em conjunto, criando ou fortalecendo laços de companheirismo e cumplicidades à distância.
No domingo aprendemos com a Catarina Carvalho uma técnica simples de fazer carimbos com materiais baratos. E usámos alguns para pintar t-shirts. Ficaram uma beleza!
Também no domingo Anota de Rodapé (pseudónimo especial para a ocasião de Diana Dionísio) guiou-nos pela exposição «Como esta mão, que segura ou se prolonga no pincel», dando nota de todas as notas em falta, e que se encontram no Passageiro Clandestino III. Informações que nos fazem ver melhor a pintura de Mário Dionísio.
Obrigada a toda a gente que ajudou a fazer em comum estes dias incomuns. Foram muitas as pessoas que aproveitaram a ocasião para comprar um presente ou fazer-se amigo da Casa da Achada. Obrigada a todas elas!
Olá!
Foi no domingo 20 de Novembro que estivemos a ouvir este belo programa feito pela Serena Cacchioli propositadamente para esta sessão de escuta na Casa da Achada, sobre Ferreira Gullar e o seu poema sujo.
Soubemos que houve quem quis vir a esta sessão e não conseguiu… e resolvemos publicá-lo, para ainda poder chegar a mais uns ouvidos.
Ouvido de Tísico nº 36: OIÇA GULLAR!
Um podcast realizado por Serena Cacchioli sobre o poeta brasileiro Ferreira Gullar e o seu «poema sujo», pela voz dele próprio e através das vozes de Andrea Ragusa, Itamar Assumpção, Mariana Varela, Rosalvo Acioli Júnior, Tony Scott…
Nas sessões «Ouvido de Tísico» a proposta é escutar. Fácil? Difícil? Num mundo que nos quer entupir os ouvidos, nós queremos continuar a fazer cócegas ao caracol. Ouvir-se-ão textos de vários autores, saladas musicais, documentos desencantados do Centro de Documentação da Casa da Achada, discos do princípio ao fim, entrevistas, enfim, de tudo um pouco. Pode-se ouvir de pé ou sentado, sentado ou deitado. Pode ouvir-se de olhos fechados ou abertos, abertos ou semicerrados. Pode-se desenhar enquanto se ouve, ou escrever, ou não fazer mais do que… ouvir.
Obrigado a toda a gente que veio celebrar connosco o 13º aniversário da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio. Foi um fim-de-semana à roda dos amigos, dos quadros da nova exposição, dos poemas, dos livros, das conversas e discussões a propósito do diário de Mário Dionísio e sobre o que é o popular. À roda também das canções, umas previstas, outras espontâneas, e até à roda da sorte!
Alguns dos nossos amigos da Lega di Cultura di Piadena vieram de Itália de propósito para festejar connosco a vida da Casa da Achada, os amigos do CACAV atravessaram o Tejo e ofereceram-nos poemas e músicas, e tanta outra gente veio de tantas partes para nos desejar mais anos de vida. Foi muito bom ver-vos!
Obrigado também a quem pôs as quotas de amigo em dia, quem comprou as nossas edições, quem fez donativos, quem trouxe comidas e outras coisas para vendermos. É pela mão dos seus amigos que a Casa da Achada se mantém de pé!
Fiquem com estas fotografias:
O livro de poemas de Mário Dionísio, Memória dum pintor desconhecido, publicado em 1965, acaba de ser traduzido para francês por Regina Guimarães. Aqui podem encontrar a tradução:
Chegámos quase ao fim de uma caminhada que começámos há anos, quando surgiu a vontade de fazer uma nova «kantata», à semelhança do que foi em 2013 a Kantata de Algibeira (ver aqui).
A ideia era a criação colectiva de um espectáculo, um coro de vozes, construído por quem não está acostumado a ter voz, que desse a ouvir as suas inquietações, reflexões e propostas sobre os problemas da habitação, neste mundo em que as cidades se transformam em tabuleiros de Monopólio.
A busca por financiamentos que não chegaram atrasou o arranque dos trabalhos. Até que, no fim de 2020, um crowdfunding que teve a participação de cerca de 200 pessoas nos deu novo alento.
Infelizmente, novas peripécias nos esperavam: primeiro, a pandemia do COVID, que tudo paralisou; depois, a morte de Margarida Guia, pessoa fundamental para a realização da anterior Kantata d’Algibeira e que teria também em mãos a construção desta nova Kantata do Tecto Incerto.
Fomos assim obrigados a reinventar o projecto. Reunimos uma equipa um pouco diferente da inicialmente pensada e reagendámos os trabalhos.
Em Fevereiro de 2022 demos início a uma série de encontros entre Luiz Rosas (da associação Cardan, de Amiens, que combate a iliteracia e cuja Philharmonique des mots inspirou estas kantatas) e pessoas variadas, afectadas por problemas de habitação. A partir das conversas geradas, Regina Guimarães (autora também do texto da Kantata d’Algibeira) escreveu um libreto.
Em Abril, começaram novos encontros entre algumas daquelas pessoas e ainda outras, sem experiência de palco, que, orientadas pelos trabalhos de música e de cena de Nicolas Brites, Pedro Rodrigues e João Caldas, se envolveram num processo que culminou, em Julho, com a apresentação da Kantata do Tecto Incerto, primeiro no Teatro S. Luiz, depois no Largo da Achada. Foi ainda apresentada uma fatia da Kantata na associação Sirigaita.
Esta caminhada ainda não chegou ao fim. Por estes dias, a Casa da Achada está a preparar uma exposição sobre o processo de construção Kantata do Tecto Incerto, que inaugurará no fim do mês de Julho. Para além disso, o grupo de pessoas que a fez está a avaliar a possibilidade de poder voltar a reunir-se para novas apresentações a partir de Setembro.
A Casa da Achada – Centro Mário Dionísio deseja mais uma vez agradecer a todos os que tornaram a Kantata do Tecto Incerto possível. Aos sócios e amigos da Casa da Achada que tiveram esta vontade, que desenharam e redesenharam planos, que montaram e ajudaram a divulgar a campanha de crowdfunding, que propuseram a participação de outros amigos, que trabalharam, voluntariamente, para a realização desta ideia. A todos os que participaram, financeiramente, no crowdfunding que tornou possível a remuneração de alguns dos trabalhos de criação e o pagamento das despesas de produção. Ao Teatro de S. Luiz que acolheu a estreia do espectáculo. Finalmente, àqueles que meteram mais as mãos na massa da Kantata: Luiz Rosas, Regina Guimarães, Nicolas Brites, Pedro Rodrigues, João Caldas, Catarina Carvalho, que se encarregou de toda a produção, Inês Nogueira, que deu uma “mãozinha” na voz; a todos aqueles que participaram nas conversas e encontros desta caminhada; e aos que subiram à cena: Alessandra Esposito, Ana Baltazar, Ana Gago, Ana Mourão, Ana Paula Silva, Anabela Cardoso, Antonio Gori, Artur Pispalhas, Camille Bourdeau, Carla Costa, Carla Pinheiro, Carlos Quintelas, Clara Amaro, Clara Pelotte, Cláudia Oliveira, Fernando Afonso, Fernando Chaínço, Françoise Bourchenin, Ilda Feteira, Jesús Manuel, João Neves, Jorge Aurélio, Jorge Ramalho, Julia Geiger, Leonor Domingos Antunes, Maria Gomes, Maria João Costa, Marlisa Conceição, Olga Germano, Paula Silva, Pedro Ferreira, Raquel de Castro, Rosa Santos, Rosário Conceição, Rubina Oliveira, Susana Baeta, Susana Domingos Gaspar, Teresa Mamede, Teresa Valério.
A Kantata é uma casa de chegada ou de partida?
Tanta coisa nestes três dias…
OBRIGADO ao Renato Roque e ao Frederico Mira George pelas duas belas exposições de fotografia e de pintura que inaugurámos no dia 23, sábado.
Foi bom estar à conversa com eles sobre pintura e fotografia, sobre os tamanhos, as cores, os modos de fazer e as ideias das artes. Alguém disse que criar é sempre «a partir de…», neste caso com artes plásticas que brotam da escrita de Carlos de Oliveira e de Mário Dionísio. Encontros de amizades antigas e de hoje. Já agora OBRIGADO também a quem pôs estas exposições de pé desmontando, montando, medindo, furando, pintando, colando.
OBRIGADO a todos os leitores atentos do terceiro volume do Passageiro Clandestino de Mário Dionísio que, na tarde de domingo 24, nos deram vontade de ler também esta nova edição, mais uma vez profusamente anotada por Eduarda Dionísio. Em particular a António Pedro Pita, Luís Bigotte Chorão, Luís Crespo de Andrade, Natércia Coimbra, Raquel Henriques da Silva, Luís Ricardo Duarte e Manuel Nunes que no fim leu um poema de Mário Dionísio em que a protagonista é a máquina de escrever. Leiam este Passageiro Clandestino e vão perceber!…
OBRIGADO ao Coro e ao Grupo de Teatro Comunitário da Casa da Achada que fizeram um espectáculo sobre o 25 de Abril com palavras, músicas e até cartazes feitos à mão… E tanta gente a ver e a cantar também!
OBRIGADO aos CASAL DO LESTE que ofereceram um concerto fora do vulgar. Terá sido punk neo-realista, rock libertário ou pop literário? Certo ´é que fez faíscas no corpo e na cabeça das mil pessoas que por ali passaram.
OBRIGADO também a quem preparou terreno, tratou de comidas e bebidas, a quem ajudou em tudo e mais alguma coisa e fez com que fosse um momento transbordante de encontros e reencontros.
25 de Abril sempre! Vê-se agora melhor o mais distante?
Vamos arrancar com os ensaios da Kantata!
Durante o mês de fevereiro, ouvimos muitas pessoas e grupos de pessoas sobre habitação e direito à cidade. Essas palavras alimentaram a escrita de um texto pela Regina Guimarães.
Estamos agora a convidar as pessoas que o inspiraram e outras interessadas neste projecto para um novo encontro, a fim de começarmos a conhecer e explorar esse texto. Podemos mesmo chamar a esse ajuntamento primeiro ensaio da Kantata do Tecto Incerto! Terá lugar já no próximo domingo, dia 10 de abril, às 17h na Casa da Achada.
Este será o primeiro de vários encontros para trabalhar o texto, experimentar sonoridades com os nossos músicos e ensaiar a metamorfose dessas matérias em cantata*. Pode-se aparecer sem compromisso, mas o agendamento do processo de trabalho que imaginámos é o seguinte: dois ensaios semanais (um à quinta-feira à noite, outro ao sábado à tarde), de maneira a que as pessoas possam vir pelo menos a um deles por semana, durante os meses de Abril, Maio e Junho.
Em Abril haverá algumas variações em relação a este calendário e os ensaios, em princípio, serão só nestes dias:
– Domingo 10 abril 17h – 19h
– Sexta 15 abril 20h30 – 23h
– Sábado 16 abril 16h – 19h
– Quinta 28 abril 20h30 – 23h
– Sábado 30 abril 18h – 21h
Vem e traz aquela pessoa a quem participar nisto connosco faria mesmo bem!
* Palavra de origem italiana que designa uma composição vocal, por vezes coral, religiosa ou profana, e compreendendo, em geral, vários andamentos.
A Margarida Guia, actriz, cantora, sonoplasta e amiga da Casa da Achada deixou-nos a «Bibliambule», uma criatura com rodas, cheia de objectos surpreendentes dentro, criada em conjunto com Michel Vela, em 2002. Com esta biblioteca ambulante, a Margarida leu e cantou a liberdade das palavras pelas ruas de Lisboa e pelas esquinas do mundo.Nestas sessões, convidamos pessoas curiosas, artistas ou não, a mergulhar nesta herança a que decidimos dar vida e a propor-lhe novos modos de uso.
No sábado 2 de Abril, às 18h30, a Inês Nogueira e a Joana Bagulho andaram a bibliambular por aí.
A perda é tremenda para a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, de que foi fundador em 2008, a cujos corpos gerentes pertenceu, e que ajudou a construir escrevendo textos, participando em conversas e debates, apresentando filmes, dando ideias.
Jorge Silva Melo foi aluno de Mário Dionísio no Liceu Camões – ver aqui um dos textos que escreveu sobre como isso o marcou. Leu textos de Mário Dionísio em voz alta. Escreveu sobre a sua obra. Fez o Prefácio a Poesia Completa (2016). Conviveu com o professor que admirava, em diversas ocasiões.
Grande amigo de Eduarda Dionísio, que esteve com ele em vários projectos colectivos. Entre eles, a viagem colectiva de estudantes ao Festival de Teatro de Avignon (1968), o Grupo de Teatro da Faculdade de Letras (1969), a revista Crítica (1971-1972), a campanha eleitoral do PSR (como independentes) para o Parlamento Europeu e o jornal «Combate» (1987), a fundação da Abril em Maio – associação cultural (1994), além da Casa da Achada-Centro Mário Dionísio.
Desta vez com convidados muito especiais.
A partir do conto de Mário Dionísio «Assobiando à vontade» (1944), Inês Nogueira e Artur Pispalhas voltam a contar-nos este conto desta vez com a participação especial de Pedro e Diana e Carlos «Zíngaro».
Foi no sábado, 26 de fevereiro, às 18h30.
Sabemos da morte do Padre Mário e lembramo-nos das várias vezes que veio à Casa da Achada. E aqui deixamos um registo em vídeo de uma dessas vezes, uma sessão da rubrica «Itinerários» (em 27 de Outubro de 2012), em que contou a sua vida:
Caros amigos cujo contributo vai possibilitar
a criação da KANTATA DO TECTO INCERTO,
pedimos desculpa pelo nosso longo silêncio.
A Margarida Guia, encenadora e sonoplasta a quem,
na sequência do seu extraordinário trabalho no âmbito da KANTATA DE ALGIBEIRA,
fora confiada a direcção artística desta nova peça musical,
faleceu a 19 de julho de 2021.
Não encontramos palavras capazes de descrever o doloroso sentimento de perda da amiga, da companheira de estrada e da artista sui generis que até há bem pouco tempo nos deixou incapazes de reagir e decidir quanto ao rumo da KANTATA DO TECTO INCERTO.
Definidos que foram finalmente os moldes de continuação dum projecto que a Margarida Guia faria questão de ver realizado, vimos por este meio convidar-vos para a sessão que marcará o arranque dos trabalhos. Terá lugar na Casa da Achada-Centro Mário Dionísio, no dia 12 de Fevereiro, às 18 horas.
A partir de imagens e sons, conversaremos acerca do imenso desafio que temos pela frente.
Vinde numerosos. Precisamos do calor da vossa presença.
Saudações poéticas e políticas
e votos dum bom e belo 2022
Aqui publicamos o programa RÁDIO NA ACHADA, que passou na sexta-feira 21 de Janeiro às 21h e no sábado 22 de Janeiro às 17h, na Rádio Paralelo.
Trata-se de uma reportagem da ida do Coro da Achada a Cambedo da Raia em 18 e 19 de Dezembro passados, no âmbito da iniciativa «Cambedo da Raia 75 anos depois – Resistência e Homenagem»
O próximo Ouvido de Tísico é já o número 28 (vamos ouvir o programa DO SILÊNCIO no domingo 23 de Janeiro às 15h30), mas a verdade é que estava prometido (já desde o ano passado!) publicar o Ouvido de Tísico nº 26: RÁDIO CABUL – A RESISTÊNCIA É A LIBERDADE DE TODOS, um programa feito por André Luís Alves, que ouvimos na Casa da Achada em Novembro. Aqui está ele:
https://archive.org/details/ot-26
Nas sessões «Ouvido de Tísico» a proposta é escutar. Fácil? Difícil? Num mundo que nos quer entupir os ouvidos, nós queremos continuar a fazer cócegas ao caracol. Ouvir-se-ão textos de vários autores, saladas musicais, documentos desencantados do Centro de Documentação da Casa da Achada, discos do princípio ao fim, entrevistas, enfim, de tudo um pouco. Pode-se ouvir de pé ou sentado, sentado ou deitado. Pode ouvir-se de olhos fechados ou abertos, abertos ou semicerrados. Pode-se desenhar enquanto se ouve, ou escrever, ou não fazer mais do que… ouvir.
Nos dias 18 e 19 de Dezembro de 2021 o coro da Achada deslocou-se a Cambedo da Raia (concelho de Chaves) e a Campobecerros, terras de fronteira onde se homenagearam resistentes aos fascismos ibéricos. A história oficial repete que os vizinhos de Cambedo abrigaram criminosos. Ali ouviu-se uma história bem diferente.
O coro deslocou-se de autocarro, transporte garantido pelo Museu do Aljube, que se associou às duas acções de homenagem organizadas por Paula Godinho, antropóloga da Universidade Nova que realizou trabalhos de investigação naquela região durante vários anos. O fim-de-semana foi organizado em colaboração com várias pessoas e entidades interessadas na memória histórica da resistência anti-franquista e anti-salazarista, do lado de cá e do lado de lá da fronteira. Eram antropólogos, arqueólogos, historiadores, membros de movimentos cívicos e grupos políticos, associações locais e museus, de associações e grupos musicais, amigos e amigas dos dois lados da raia.
No dia 18 realizou-se no centro da aldeia de Cambedo da Raia um acto de homenagem aos “vizinhos de Cambedo”, terra que albergou resistentes anti-fascistas e que foi atacada violentamente (e bombardeada!) por uma acção conjunta da Guardia Civil, do exército e da GNR portuguesa (com a colaboração da PIDE). Dois dos resistentes foram assassinados. Um terceiro foi preso e enviado para o campo do Tarrafal, em Cabo Verde. Isto aconteceu em 1946, bem depois do fim da Guerra Civil Espanhola e já terminada a Segunda Guerra Mundial.
Cambedo servia de apoio a vários refugiados e guerrilheiros galegos que se opunham às forças franquistas e procuravam escapar aos fuzilamentos, ao terror e à repressão. No entanto, muitos deles eram descritos pelas autoridades simplesmente como malfeitores, criminosos ou contrabandistas. A «Guerra do Cambedo», em que habitações foram destruídas, pessoas feridas e dois guerrilheiros mortos, foi encoberta pela censura.
A GNR e a PIDE farão dezenas de detenções na região, prendendo famílias inteiras, acusadas de acolher «bandos de malfeitores». No dia 21 de dezembro de 1946, há 75 anos, estavam refugiados em Cambedo três guerrilheiros galegos: Demetrio García Alvarez, Juan Salgado Ribero e Bernardino Garcia y Garcia.
A repressão feroz foi lembrada nesta ocasião, ao mesmo tempo que foi elogiada a coragem e a solidariedade dos vizinhos de Cambedo que esconderam e ajudaram os perseguidos pelos regimes totalitários português e espanhol. Houve pequenos discursos de organizações locais (Centro Desportivo Cultural e Recreativo de Cambedo da Raia), da Junta de Freguesia de Vilarelho da Raia, de resistentes e ex-presos políticos, de membros de organizações anti-fascistas ou que lutam pelo “direito à memória histórica” (como a URAP ou o movimento Não Apaguem a Memória).
Depois das intervenções, ouviu-se um poema de Louis Aragon relacionado com a Guerra Civil de Espanha e o coro da Achada lançou canções alusivas à Guerra Civil Espanhola e à luta anti-franquista. Santo Cristo de Fisterre, em galego, En el pozo María Luisa, em castelhano, Só ouve o brado da terra (de Zeca Afonso), em português, foram algumas delas.
Estava uma centena de pessoas presentes. E alguns ausentes lembrados: por exemplo António Loja Neves, jornalista, escritor e documentarista, que correalizou com José Manuel Alves Pereira o filme «O Silêncio», precisamente sobre o silenciamento deliberado destes acontecimentos (este filme foi projectado na Casa da Achada em 2012 numa série de sessões realizadas sobre estes assuntos).
Seguiu-se mais música e festa, com acordeão, violino, gaita de foles e muitos adufes, com malta vinda do Porto (alguns dos «Bugalhos» e de vários grupos amigos) que cantou canções populares dos dois lados da fronteira. Vizinhas ofereceram uma jeropiga e ainda se esteve por ali até ao fim da tarde de Sábado, cantando e dançando ali no centro da aldeia, junto à igreja de Cambedo.
No Domingo de manhã foi a vez de se homenagear, num lugar na serra, do lado galego, perto de Campobecerros, outros homens: carrilanos que resistiram, depois do golpe franquista de 1936, à instauração da ditadura. Eram homens que trabalhavam na construção do caminho-de-ferro (daí o nome “carrilanos”) e que resistiram (até à morte) ao avanço dos falangistas.
Homenagem sentida e emocionada, junto a uma placa onde se lia «Em memória dos carrilanos portugueses, veciños do Concello de Castrelo do Val asasinados por forzas fascistas o 20 de Agosto de 1936/ O esquecemento leva a que feitos como estes se poidan repetir (3 Junho 2012)».
Primeiro, palavras de Pepe (“é preciso dizer que a Guerra Civil não foi uma ‘guerra civil’, foi um golpe!”) lembrando também que não foram só os antifascistas que foram atacados, presos e assassinados, mas todo o povo galego. Houve ainda agradecimentos finais feitos por Paula Godinho, com vários amigos e amigas galegas ali presentes. Depois do coro cantar algumas canções («pueblo que canta no morirá…»), cantámos juntos a inevitável «Grândola, Vila Morena».
Seguiu-se uma visita à campa não identificada de dois dos assassinados no cemitério de Campobecerros. E depois houve almoço num restaurante local e familiar, onde se comeu cozido galego e truta, enquanto se cantaram mais canções de luta e se trocaram histórias. E leram-se ali palavras da Autobiografia de Mário Dionísio sobre a Guerra Civil:
«A guerra de Espanha, aqui ao lado, vivida dia a dia e hora a hora com o ouvido colado aos aparelhos de TSF, por causa das interferências meticulosamente provocadas, por causa dos vizinhos (fossem eles quem fossem), com projectos ansiosos de ir lá ter («Partir./Partir para a pátria instável onde o grito salta das veias», versos meus de 38) e o remorso de ficar. As notícias diárias dos bombardeamentos, dos fuzilamentos, das aldeias destruídas, sem pão, sem armas. E o «no pasarán!». O não passarão vibrando no nosso desespero, ainda antes de gritado nas barricadas de Madrid, sentido em silêncio e lágrimas, neste país agrilhoado, esvaziado, com os amigos perseguidos, presos, torturados, muitos deles mortos não se sabia onde. Houve um tempo em que nem saber onde estavam se podia.»
Aqui publicamos o vigésimo nono programa ACHADA NA RÁDIO, que passou na sexta-feira 24 de Dezembro às 21h e no sábado 25 de Dezembro às 17h, na Rádio Paralelo.
ACHADA NA RÁDIO é um programa para ouvir feito pelas vozes que frequentam e compõem a Casa da Achada, com notícias da actualidade, divulgação da obra de Mário Dionísio e não só, leituras e releituras, invenções, efemérides, canções! Ouçam!
Entre outros ingredientes este programa tem dentro: Adão Contreiras, Adelino Gomes, Amigos da Casa da Achada, Antonino Solmer, António Ramos Rosa, Catherine Dumas, Clara Boléo, Cláudia Oliveira, Coro da Achada, Diana Dionísio, DJionísio, Eduarda Dionísio, Eupremio Scarpa, Filomena Marona Beja, Grupo de Teatro Comunitário da Casa da Achada, Ian “Lemmy” Kilmister, Inês Nogueira, Isabel da Nóbrega, João B. Serra, João Rodrigues, Lena Bragança Gil, Luca Argel, Luís Bigotte Chorão, Luis Miguel Cintra, Luísa Duarte Santos, Mário Dionísio, Miguel Ângelo, Motörhead, Nat King Cole, Pedro Rodrigues, Rádio Paralelo, Regina Guimarães, Rubina Oliveira, Sofia Ortolá, Toni, Ursula K. Le Guin, Xutos & Pontapés, Zé Mário Branco, Zeca Afonso.
O sol ajudou, mas o frio de fim de tarde não foi suficiente para desmobilizar quem se deslocou à Casa da Achada no passado fim de semana, 11 e 12 de Dezembro, quando se iniciaram os dias Faça frio ou esteja quente, Achada com a gente! E foram centenas de pessoas que acolhemos de coração cheio e a quem, agora, agradecemos.
Logo a abrir, no sábado, 11, o Coro da Achada juntou-se ao Grupo de Teatro Comunitário da Casa da Achada para, em conjunto, apresentarem a nossa agenda para 2022. Trata-se da primeira agenda editada pelo Centro Mário Dionísio e baseia-se (sem se limitar a ele) no primeiro volume do diário inédito do próprio Mário Dionísio, chamado Passageiro Clandestino I, que lançáramos no 25 de Abril passado. Uma agenda que, para além da sua imensa utilidade e extraordinária beleza (isto falando com a proverbial modéstia de Mário Dionísio), nos lembra que, depois de tanto tempo com as nossas vidas entregues a peritos e especialistas, em 2022 «é preciso criar os dias».
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A Agenda para 2022 «É preciso criar os dias» está à tua espera na Casa da Achada, no seu horário de abertura. Também pode ir ter contigo a casa, se a pedires para centromariodionisio@gmail.com
Findo o espectáculo do Coro e do Grupo de Teatro, as pessoas que se tinham espalhado pelo Largo da Achada para assistirem foram-se dirigindo para o interior da Casa da Achada, onde, para além da Agenda, puderam ver as mil coisas que preparámos para preencher as nossas bancas: muitos livros, entre os quais todas as nossas edições, t-shirts, doces, palavras cruzadas, cadernos, pechinchas vintage, CDs, K7s, serigrafias e um sem fim de lembranças. Quem quis pôde até habilitar-se a um cabaz (na verdade eram dois) daqueles de fazer o pai natal chorar de inveja sobre coca-cola derramada.
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No próximo dia 19, há o sorteio de mais dois cabazes. Apressa-te a apetrechar-te com o papel habilitador! Dirige-te à Casa da Achada no seu horário de abertura para o adquirires!
Nas bancas, a grande novidade destes dias ainda largava um cheiro a gráfica, o odor inconfundível de «livro acabado de sair do forno» (em sentido figurado, claro): o segundo volume de Passageiro Clandestino, o diário inédito de Mário Dionísio, devidamente acompanhado, talvez não casado mas, pelo menos, em união de facto, com as respectivas Notas, obra de Eduarda Dionísio. A própria lançou a sessão, onde essa ideia de inseparabilidade entre «Diário» e «Notas» foi dita e repetida.
A abrir tudo, um inesperado e extraordinário acontecimento: a «devolução» do quadro Ave oculta, uma pintura abstracta de 1992 que Mário Dionísio oferecera a Isabel da Nóbrega. Esta, entre outras coisas, incumbiu a filha (também Isabel) de, à sua morte, «devolver» o quadro à filha de quem o pintou. Esse momento aconteceu ali, é irrepetível, e surgiu como uma 1103ª nota, esta apresentada ao vivo e a cores (agora diz-se «em tempo real»). O quadro Ave oculta pode agora ser visto na Casa da Achada.
Para a ajudarem a explicar o que se passa neste segundo volume do diário de Mário Dionísio, Eduarda Dionísio convidou várias pessoas que tinham tido o privilégio de ler estes documentos antes de estarem disponíveis para o comum dos mortais.
Tal como no lançamento do primeiro volume, a abordagens mais filosóficas ou antropológicas, de investigadores e curiosos, juntaram-se testemunhos de quem esteve com o(s) livro(s) em trabalhos de bastidores, nomeadamente quem o(s) ajudou a rever e a existir enquanto objecto. E assim ouvimos as impressões de Clara Boléo, Cláudia Oliveira, Catherine Dumas, João Rodrigues, João B. Serra, Luísa Duarte Santos, Adelino Gomes, Luís Miguel Cintra, Luís Bigotte Chorão.
Entre leituras de excertos deste segundo volume do Passageiro Clandestino – seleccionadas e lidas por Inês Nogueira e Lena Bragança Gil -, muitas coisas foram ditas, muitas citações lidas, muitos sorrisos trocados, muitas cumplicidades criadas ou reforçadas. Tantas, que a sessão, apesar de ter começado, como previsto, pelas 16h30, não permitiu que toda a gente convidada conseguisse falar e transbordou ainda para as conversas informais que aconteceram depois no jardim, deixando a vontade de se voltar, em breve, a esta conversa à volta do Passageiro Clandestino II e suas notas.
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O inédito Volume II do diário de Mário Dionísio Passageiro Clandestino está disponível na Casa da Achada. Visita-nos no nosso horário de abertura.
O convívio no jardim, regado a comes&bebes, foi aveludado pelo DJ set temático de DJionísio, que ajudou a aguentar o acentuado arrefecimento nocturno e que, se não fez dançar todos os esqueletos, chegou a abanar alguns bem improváveis.
No domingo, dia 12 de Dezembro, o nosso jardim albergou a 27ª sessão da rubrica Ouvido de tísico, que nos presenteou com a audição integral do recém editado CD duplo Zé Mário Pirata, um conjunto de mais de 20 versões de músicas e canções de José Mário Branco que a Rádio Paralelo coordenou e lançou. Seguiu-se uma conversa animada que aproveitou a presença de alguns dos artistas envolvidos para se espalhar dos pormenores da participação ou da produção até questões prático-filosóficas relacionadas com direitos de autor e propriedade intelectual. Ainda temos alguns exemplares do Zé Mário Pirata para quem quiser.
Ah, e a fechar o domingo, ainda oferecemos dois cabazes!
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Os dias «Faça frio ou esteja quente, Achada com a gente!» continuam até 23 de Dezembro. Passa por cá para te lambuzares com as nossas bancas.
Aqui publicamos o vigésimo oitavo programa ACHADA NA RÁDIO, que passou na sexta-feira 10 de Dezembro às 21h e no sábado 11 de Dezembro às 17h, na Rádio Paralelo.
ACHADA NA RÁDIO é um programa para ouvir feito pelas vozes que frequentam e compõem a Casa da Achada, com notícias da actualidade, divulgação da obra de Mário Dionísio e não só, leituras e releituras, invenções, efemérides, canções! Ouçam!
Entre outros ingredientes, este programa tem dentro: Adão Contreiras, Antonino Solmer, Clara Boléo, Claudio Mur, Diana Dionísio, Eduarda Dionísio, Eupremio Scarpa, Ferro Rodrigues, Inês Nogueira, Mário Dionísio, Miguel Cardoso, Otis Redding, Pedro e Diana, Pedro Rodrigues, Rubina Oliveira, Sérgio Godinho, Toni.
O próximo programa será na sexta-feira 24 de Dezembro às 21h, para acompanhar a consoada, na Rádio Paralelo (com repetição no sábado seguinte às 17h). Não percam!
A partir de 11 de Dezembro e até ao dia 23 de Dezembro a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio põe à venda as suas mais recentes edições, incluindo muitas novidades e realiza uma série de actividades fora do baralho. Entre as mais recentes edições estão o volume II de «Passageiro Clandestino» (diário inédito de Mário Dionísio), uma agenda para 2022 e outras surpresas. Serão dias com espectáculos musicais, com livros e leituras, encontros e debates. Coisas bonitas, ideias e gente para continuar pelo próximo ano fora: por outras formas de fazer e pensar a cultura, faça chuva ou faça sol.
Programa de sessões:
11 de DEZEMBRO – 15H30
• LANÇAMENTO DA AGENDA «É PRECISO CRIAR OS DIAS»
Este ano, pela primeira vez, a Casa da Achada lança uma original e prática agenda para 2022, com citações do primeiro volume do diário de Mário Dionísio, PASSAGEIRO CLANDESTINO, e outras reproduções de materiais do seu espólio. O lançamento terá leituras e canções pelo Coro e pelo Grupo de Teatro Comunitário da Casa da Achada.
• LANÇAMENTO DO 2º VOLUME DO PASSAGEIRO CLANDESTINO
Depois do lançamento em Abril passado do 1º volume do diário de Mário Dionísio, PASSAGEIRO CLANDESTINO, escrito entre 1950 e 1957, lançamos agora o 2º volume, escrito entre 1959 e 1967. Tal como aconteceu com o 1º volume, publicamos em conjunto um outro tomo de Notas ao diário, da autoria de Eduarda Dionísio.
O volume será apresentado por Adelino Gomes, António Pedro Pita, Catherine Dumas, Clara Boléo, João Rodrigues, João B. Serra e Luísa Duarte Santos e haverá leituras por Inês Nogueira e Lena Bragança Gil. Seguir-se-á uma conversa com a participação destes e doutros convidados.
12 de DEZEMBRO – 15h30
• OUVIDO DE TÍSICO – ZÉ MÁRIO PIRATA
Vamos ouvir uma antologia de versões de canções de Zé Mário Branco acabada de sair: o disco duplo «Zé Mário Pirata», editado pela Rádio Paralelo. Ouviremos mais de uma dezena de artistas e bandas que responderam ao desafio de fazer uma versão de uma música e podemos conversar com alguns deles no fim.
13 de DEZEMBRO – 18h30
• ARTES PÚBLICAS E PRIVADAS – CICLO A PALETA E O MUNDO
Leitura de «Artes públicas e privadas» de Eduarda Dionísio. Por Pedro Rodrigues.
Em Dezembro, interrompemos o ciclo «A Paleta pergunta e o Mundo responde» para ler um ensaio/conferência de Eduarda Dionísio publicado em 1997.
Podem as artes (públicas e privadas) ser uma alavanca do mundo?
13 de DEZEMBRO – 21h30
• CINEMA: DOROGOY TSENOY / O CAVAVO QUE CHORA
Nesta sessão do ciclo «A cor no cinema» projectamos o filme «Dorogoy Tsenoy/ O cavalo que chora» (1957, 98′) de Mark Donskoi.
19 de DEZEMBRO – 16h
• LEITORES ACHADOS
Os Leitores Achados encontram-se na Casa da Achada para ler em conjunto e comentar um conto.
20 de DEZEMBRO – 18h30
• ARTES PÚBLICAS E PRIVADAS – CICLO A PALETA E O MUNDO
Leitura de «Artes públicas e privadas» de Eduarda Dionísio. Por Pedro Rodrigues.
Em Dezembro, interrompemos o ciclo «A Paleta pergunta e o Mundo responde» para ler um ensaio/conferência de Eduarda Dionísio publicado em 1997.
Podem as artes (públicas e privadas) ser uma alavanca do mundo?
20 de DEZEMBRO – 21h30
• CINEMA: SESSÃO DE CURTAS METRAGENS
Nesta sessão do ciclo «A cor no cinema» projectamos projectamos curtas metragens de Normal McLaren, Walt Disney, Fernando Lopes e Manuel de Oliveira.
André Spencer e F. Pedro Oliveira para Casa da Achada - Centro Mário Dionísio | 2009-2020