3 Abril: «Direis que não é poesia» com Pedro & Diana e Abaixonado
«Direis que não é poesia» é uma nova rubrica de espectáculos que vai começar na Casa da Achada. Desafiaremos vários grupos e pessoas para fazerem, a partir da poesia de Mário Dionísio, novos objectos: música, dança, vídeo, leituras encenadas, pintura… Haverá de tudo, menos a simples leitura da poesia de Mário Dionísio. O que queremos é «ouvir a leitura» que outras pessoas fazem da sua poesia, em novas criações.
O primeiro espectáculo será no sábado 3 de Abril, às 18h, com Pedro e Diana e Abaixonado, que farão músicas e leituras musicais de vários poemas de Mário Dionísio e apresentarão outras músicas suas.
MEU GALOPE É EM FRENTE
Direis que não é poesia
e a mim que importa?
Eu canto porque a voz nasce e tem de libertar-se.
E grito porque respondo
às lanças que me espetam
e aos braços que me chamam
E porque, dia e noite, minhas mãos e meus olhos,
por estranhas telegrafias,
dos cantos mais ignotos
e das ilhas perdidas
e dos campos esquecidos
e dos lagos remotos,
e dos montes,
recebem longas mensagens e comunicações:
para que grite e cante.
O meu grito e meu canto é a voz de milhões.
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que tiver a cantar
e grito e gritarei o que tiver a gritar
e falo e falarei o que tiver a falar.
Direis que não é poesia.
E a mim que importa
se eu estou aqui apenas para escancarar a porta
e derrubar os muros?
E a mim que importa
se vós sois afinal o que hei-de ultrapassar
e esmigalhar
em nome
de todos os futuros?
Eu sigo e seguirei.
como um doido ou um anjo,
obstinado e heróico a caminho de nós
em palavras e acções
Por todos os vendavais
e temporais
e multidões
nos cantos mais ignotos
e nas ilhas perdidas
e nos campos esquecidos
e nos lagos remotos
e nos montes
– por terra, mar e ar.
Direis que não é poesia
e a mim que importa!
Convosco ou não, meu galope é em frente.
Pertenço a outra raça, a outro mundo, a outra gente.
É andar, é andar!
Mário Dionísio, 1943
Alem do “enamoramento” que a beleza do que é realmente poesia,, se conseguir perceber a época tão dificil na qual foi escrita e ( ao menos parte ) dos problemas que toca, melhor ainda se torna ler e ouvir.
( isto não será realmente prosa, mas fica o sentido ). fj