Festa da Lega di Cultura di Piadena 2015 – um texto para debater o trabalho e a precariedade
Este ano, a Festa da Festa da Lega di Cultura di Piadena decorreu entre os dias 20 e 22 de Março em Pontirolo, na casa do Micio (Gianfranco Azzali), com extensão ao Museu Archeologico Platina/Atelier in Vetrina (com uma exposição de fotografias de Giuseppe Morandi – Lavori di Terra) e à Sala Cívica Comunale, em Piadena; onde, no sábado, se debateu o tema escolhido, de certa forma provocatório: «Precariado: antecâmera do comunismo? Não falamos de política!», dando lugar a uma partilha de opiniões e conversas acerca da juventude – bombardeada de informação pouco profunda, como disse uma das intervenientes – que emigra em busca de trabalho e de experiências, do exercício livre do trabalho intelectual, do trabalho individual e colectivo, das vantagens e desvantagens do modelo cooperativo, dos danos sociais e ambientais da massificação industrial de algumas vertentes de produção. Alguns sócios e amigos da Achada estiveram lá, a ajudar a construir esta festa internacionalista da Lega di Cultura di Piadena, associação amiga do Centro Mário Dionísio desde o início e com a qual a Casa da Achada tem colaborado regularmente.
Aqui reproduzimos o texto que deu o mote à discussão, da autoria de Peter Kammerer, traduzido por nós e que não podemos deixar de partilhar:
«Precariado: antecâmera do comunismo? Não falamos de política!
Tudo nasceu destas palavras de A. Napoli ditas no já longínquo ano de 1985:
Estaremos perante um sobrepopulação não produtiva que tenderá a ser a maioria da população. Esta situação muda tudo. O problema já não será o clássico, o da exploração, mas da alienação da maioria da população que será privada da própria capacidade laboral, i.e. expropriada de trabalho. Em vez de exercer a libertação do trabalho, haverá expropriação da capacidade laboral.
O problema portanto é a expropriação do ser humano da sua qualidade de “homo faber”.
O enorme excedente produtivo criado, onde vai dar? Este é o problema chave do futuro. O mesmo capital para que servirá? Põe-se de outra forma a questão do comunismo.
1. Precariedade ou crise passaram a ser a normalidade. Não há uma família em Itália sem um jovem desempregado ou precário. As famílias mobilizam os seus recursos próprios e quem não os tem agarra-se à esperança. Ouve-se vagamente que a política não consegue afrontar de modo adequado e digno a questão. Falar de política passou a ser inútil.
Todos pedem ao governo que combata a pobreza e todas dizem que apenas o crescimento pode criar emprego. Reclama-se o “direito ao trabalho”. Mas na realidade, nos próximos 10, 20 anos não haverá solução. Estes slogans arriscam-se a ser não só ilusórios, se não mesmo errados.
(direito a QUAL trabalho? Ou direito a um rendimento? Criar trabalho não tem sentido; os homens querem trabalhar menos e com mais dignidade e criatividade, uma parte crescente do trabalho produz coisas inúteis e danosas, etc.).
2. Mas a situação também é esta:
Nunca como hoje os jovens tiveram acesso à cultura, à informação; nunca como hoje passearam, viajaram, conheceram outros e outras realidades.
Não todos, é certo, mas este não é um argumento que interesse nesta sede.
Portanto: por um lado, temos uma massa jovem dinâmica, criativa, que se movimenta no mundo com os olhos e o peito aberto. Por outro, parte do sistema económico não sabe que fazer com eles! Desperdiça, esteriliza, mortifica inteligências e entusiasmos.
O que fazer com uma massa de jovens desocupados ou precários? Como impedir que se “queimem” no mercado de trabalho e que se tornem cretinos. Porque trabalhar significa também formação, aprendizagem, cultura! Que trabalho queremos? Existem possibilidades reais (fora de uma política idiota e impotente) de encontrar soluções individuais e/ou colectivas? Como valorizar a possibilidade de decidir nós mesmos o destino?
Quem decide sobre quem trabalha e quem não trabalha?
3. Hoje o mesmo capital ataca as formas tradicionais do trabalho assalariado. A resposta não pode ser simplesmente a defesa do trabalho assalariado. As novas formas de flexibilidade produto do sistema, por um lado, e a conquista cultural, por outro, podem ou não abrir novos espaços de renitência, resistência, subtracção à lógica do mercado e do dinheiro?
Conseguiremos promover uma verdadeira revolução cultural contra os imperativos do sistema económico (i.e. contra o dogma que o dinheiro decide tudo)?»


